6 de novembro de 2009

A arte de ler I

 
A leitura, ou o gozo dos livros, foi sempre contada entre os encantos da vida culta e é respeitada e invejada por aqueles que raramente se concedem esse privilégio. É fácil compreendê-lo quando comparamos a diferença entre a vida de um homem que não lê e a de um homem que lê. O homem que não tem o costume de ler está aprisionado num mundo imediato, relativamente ao tempo e ao espaço. Sua vida cai numa rotina fixa; acha-se limitado ao contato e à conversação com uns poucos amigos e conhecidos, e só vê o que acontece na vizinhança imediata. Não há como escapar a tal prisão. Mas quando toma em suas mãos um livro, penetra num mundo diferente e, se o livro é bom, vê-se imediatamente em contato com um dos melhores conversadores do mundo. Tal mudança do ambiente é na verdade semelhante a uma viagem, no seu efeito psicológico. O leitor se vê levado sempre a um mundo de pensamentos e reflexões.
A leitura dá ao homem certo encanto e sabor. Quanto ao sabor da palavra, tudo depende da forma de ler. Que se tenha "sabor" ou não quando se fala, isto depende do método de leitura.Se um leitor frui sabor nos livros, demonstrará esse sabor em suas conversações, e se tem sabor em suas conversações, tê-lo-á no que escreve.
 

Lin Yutang