29 de janeiro de 2011

Quem acompanhará o rei?


Um rei poderoso tinha quatro esposas. Amava muito a primeira, sentia-se atraído por ela, dava a ela os melhores cuidados.
Gostava da segunda pelo seu brilho e lhe dedicava muitas horas da sua vida.
Não apreciava a terceira, só cuidava dela o suficiente.
Da quarta não gostava nada; deixava-a desatendida, sentia-a como um peso do seu destino real. Um dia, o rei, já velho, descobriu emocionado que estava para morrer. Então, dirigiu-se ao seu grande amor e lhe disse:
- Acho que vou morrer em breve. Não quero ficar sozinho na outra vida. Você vai me acompanhar?
- Não posso - respondeu-lhe a primeira de suas esposas - estou muito ocupada, devo atender os meus próprios assuntos.
O rei sofreu uma grande decepção e chorou em solidão. Foi até a segunda esposa e lhe perguntou:
- Sinto que vou morrer e não quero ficar sem companhia. Você irá comigo?
- Não posso, tenho que ir a uma reunião - respondeu sua segunda amada.
Dirigiu-se à terceira amada e repetiu a pergunta ofegante. A resposta foi imediata:
- Não posso acompanhá-lo; tenho obrigações inadiáveis. Agora, se for seu desejo, posso organizar um cortejo fúnebre imponente.
O rei caiu em uma grande depressão. Foi então quando ouviu uma vozinha tão trêmula quanto conhecida:
- Eu vou acompanhá-lo; nunca abandonarei você... - disse-lhe a quarta esposa.
A primeira consorte representava o seu próprio corpo; ele cuidava muito deste, mas, uma vez morto, o corpo seguiria o seu próprio destino. A segunda mulher representava suas posses materiais; quando ele falecesse, iriam para outras mãos. A terceira era o poder, o trono, o cargo que sempre atendeu e defendeu, mas que imediatamente ia ter um sucessor. A quarta esposa era sua própria alma; não tinha cuidado nada dela, mas, fielmente, ela sempre iria acompanhá-lo.
Como é oportuno este momento para pôr ordem no próprio reino e encontrar a harmonia com a própria alma, não o divórcio contrariado!
Se nos entendermos com aquilo que essencialmente somos, é possível que um bom trabalho de comunicação interna possa nascer para descobrir nosso verdadeiro reino.
Ninguém se alimenta por outro, nem come, nem aprende, nem vive por outro.

Texto retirado do livro: Contos para presentear as pessoas que amo de Enrique Mariscal